Elon Musk negou estar liderando uma "tomada hostil" do governo americano, e defendeu seus planos de redução de custos ao fazer uma aparição surpresa na Casa Branca na terça-feira (11/02).
O homem mais rico do mundo respondeu a perguntas de jornalistas no Salão Oval, ao lado do presidente Donald Trump, que o encarregou de reduzir o tamanho e os gastos do governo federal.
O bilionário fez a declaração ao ser questionado pelos repórteres sobre acusações de estar orquestrando um aumento de influência no governo de uma maneira não-transparente.
O termo "tomada hostil", ou "aquisição hostil" ("hostile takeover" em inglês), é comumente usado para se referir, no mercado financeiro, à aquisição de uma empresa sem o consentimento ou mesmo sem o conhecimento da companhia alvo, com compras de ações diretamente dos acionistas.
Durante a visita do bilionário à Casa Branca, Trump assinou uma ordem executiva dando ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) de Musk mais autoridade para reduzir a força de trabalho federal. Ele instruiu os chefes das agências governamentais a obedecer ao Doge.
O departamento foi criticado pelos democratas, que o acusaram de falta de transparência, e seus esforços também foram prejudicados por contestações legais.
Mas Musk, que foi questionado pelos jornalistas pela primeira vez desde que Trump assumiu o cargo no mês passado, descreveu os cortes governamentais abrangentes como medidas de "bom senso", que não são "draconianas nem radicais".
"O povo votou por uma grande reforma governamental, e é isso que o povo vai receber", ele disse. "É disso que se trata a democracia."
"Espero ser totalmente escrutinado", acrescentou. "Não é que eu ache que posso me safar de alguma coisa."
O empresário bilionário do setor de tecnologia, que foi nomeado e não eleito, descreveu os funcionários federais como um "quarto poder do governo não eleito e inconstitucional" que, segundo ele, tem "mais poder do que qualquer representante eleito".
O dono da Tesla, do X (antigo Twitter) e da SpaceX estava usando um boné preto com o slogan "Faça a América grande novamente" e fazia piadas pontuais com os jornalistas que perguntavam a ele sobre seus críticos. Ele ficou com o filho pequeno, chamado X Æ A-Xii — ou X, para abreviar —, nos ombros durante parte da coletiva de imprensa.
"Não é opcional para nós reduzir as despesas federais", disse Musk. "É essencial. É essencial para que os Estados Unidos permaneçam solventes como país."
Musk também foi questionado sobre uma alegação falsa recente de que o governo dos Estados Unidos estava enviando milhões de dólares em preservativos para Gaza. "Algumas das coisas que eu digo vão ser incorretas, e devem ser corrigidas", respondeu Musk.
Nas primeiras semanas do mandato de Trump, Musk liderou o esforço para reduzir rapidamente o governo federal. Representantes do Doge entraram em vários departamentos para monitorar os gastos, ofereceram a milhões de trabalhadores um plano de saída e se movimentaram para congelar o financiamento federal, assim como o trabalho de agências como USAID, a agência de ajuda internacional dos EUA.
"Encontramos fraudes e abusos", afirmou Trump sobre o trabalho de Musk na terça-feira, sem fornecer evidências. Ele estimou que mais de US$ 1 trilhão em gastos desnecessários seriam descobertos, embora não tenha dado mais detalhes.
A iniciativa abrangente de corte de custos tem sido criticada repetidamente pela oposição, incluindo democratas de alto escalão e aqueles que dizem que a medida vai ter repercussões significativas tanto nos EUA quanto internacionalmente.
"Um governo paralelo não eleito está realizando uma tomada hostil do governo federal", disse recentemente o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer. Ele afirmou que os democratas trabalhariam para impedir os esforços de Musk introduzindo uma linguagem específica nos projetos de lei de gastos.
Mas como os republicanos detêm maioria em ambas as casas do Congresso, a agenda de Trump tem enfrentado obstáculos mais prementes nos tribunais.
"Espero que o sistema judiciário nos permita fazer o que temos que fazer", afirmou Trump na terça-feira, referindo-se a julgamentos recentes que suspenderam temporariamente seus esforços para reduzir o tamanho do governo, inclusive por meio de um programa que oferecia incentivos aos funcionários federais para renunciar voluntariamente.
Os críticos do Doge também apontaram possíveis conflitos de interesse devido aos inúmeros interesses comerciais de Musk. Os democratas o acusaram de se beneficiar pessoalmente de algumas das mudanças que o governo Trump está tentando promover.
Musk disse que o público poderia ter sua própria opinião sobre potenciais conflitos. Trump afirmou então que se a Casa Branca achasse que havia falta de transparência ou conflito de interesses, "não permitiríamos que ele atuasse nesse segmento ou olhasse para essa área".
Trump assinou uma ordem executiva instruindo o Doge a reduzir "significativamente" o tamanho da força de trabalho federal. A medida também pede que os escritórios do governo "realizem planos para reduções em larga escala".
Diz ainda que, quando terminar o congelamento de contratações que Trump assinou em seu primeiro dia no cargo, as agências não devem contratar mais do que uma pessoa para cada quatro que saírem.
Uma pesquisa recente realizada pela rede CBS News, parceira da BBC nos EUA, indicou que a maioria dos americanos é a favor do trabalho de Musk, mas discorda quanto à influência que ele deve ter.
O levantamento sugeriu que os republicanos, em particular, apoiam seus esforços para cortar gastos federais e ajuda internacional.
A pesquisa mostrou avaliações amplamente favoráveis às políticas de Trump, no entanto, cerca de 66% das pessoas disseram que gostariam que ele se concentrasse mais na redução dos preços.
Uma das agências mais afetadas pela iniciativa de corte de custos é a USAID.
Na terça-feira, o inspetor geral da agência foi demitido — um dia depois de divulgar um relatório criticando os planos de colocar a grande maioria dos funcionários da agência em licença, e fechar programas de ajuda apoiados pelos EUA no mundo todo.