Faltando pouco mais de dois meses para a posse como líder da maior potência econômica e militar do planeta, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, se reúne hoje na Casa Branca com o titular e adversário político, Joe Biden. Apesar das desavenças acentuadas pela campanha, e após vitória ampla nas urnas, Trump cumpre o rito democrático em ato observado com atenção e expectativa pelos principais players mundiais.
O encontro deve ser protocolar, sem espaço para revisionismo nos padrões de comportamento dos dois políticos. A ocasião é simbólica, uma vez que os detalhes práticos da transição serão tratados por escalões inferiores, num processo que tomará os próximos meses. Ambos, no entanto, estarão atentos à “photo-opportunity“: o aperto de mão entre rivais que propagará a imagem dos EUA como “maior democracia do mundo”.
Enquanto Biden amarga dupla derrota, ao acumular a desistência de concorrer à reeleição com o fracasso de Kamala Harris amplificado pelo placar da eleição, o Republicano chega para o encontro com parte significativa da equipe de governo escolhida. As indicações sinalizam para um mandato muito mais conservador do que o primeiro, quando Trump estreou na política e na Casa Branca, com uma equipe que filtrou excessos, contornou e se antecipou a crises.
O perfil dos indicados por Trump para postos estratégicos até aqui indica que a nova gestão vai cumprir à risca as promessas de campanha, afinal apoiadas por votação que surpreendeu todos os institutos de pesquisa – que sequer passaram perto de prever o desempenho de Kamala Harris. A democrata mergulhou após a derrota, com aparições públicas rarefeitas e silêncio só quebrado por melancólico discurso aos apoiadores.
O principal pilar a ser obedecido pelo novo comando americano perpassa todas as indicações para a nova equipe de governo até aqui: “America first”. Os interesses americanos voltam ao topo da lista em todos os domínios: da questão migratória às relações comerciais, dos temas ambientais aos conflitos entre nações. E principalmente nas relações multilaterais – as quais Trump deverá preterir em favor das bilaterais.
Das escolhas do multimilionário Elon Musk ao apresentador de tv Pete Hegseth, passando pelo senador de origem latina Marco Rubio, e pela estrategista-chefe Susie Wiles – as indicações até aqui confirmam que Trump vai impor seu estilo. Além de retribuir os apoiadores de primeira hora, o novo presidente se cerca exclusivamente de pessoas de sua estrita confiança, sem concessão ou acerto político até o momento.
A nova Casa Branca está a caminho, e se instala rapidamente, antes que o mundo consiga digerir a guinada que está por vir.