Cuiabá, 23 de Novembro de 2024

OPINIÃO Sábado, 23 de Novembro de 2024, 11:33 - A | A

Sábado, 23 de Novembro de 2024, 11h:33 - A | A

LUZIMAR COLLARES

A comunicação digital aproxima ou afasta as pessoas?

A comunicação digital pode aproximar pessoas, facilitando interações à distância, mas também pode afastá-las quando usada de maneira excessiva ou inadequada. Como toda ferramenta, seu impacto depende de como é utilizada.

LUZIMAR COLLARES

O impacto das tecnologias digitais na forma como nos comunicamos é inegável e transformador. A maneira como interagimos, compartilhamos informações e nos relacionamos mudou significativamente nas últimas décadas, trazendo benefícios e desafios. A comunicação digital pode aproximar pessoas, facilitando interações à distância, mas também pode afastá-las quando usada de maneira excessiva ou inadequada. Como toda ferramenta, seu impacto depende de como é utilizada.

Em várias ocasiões abordei nesta coluna as vantagens e desvantagens da comunicação de forma remota, especialmente no ambiente profissional, e trouxe orientações para fazê-la da forma mais assertiva e produtiva. Desta vez o foco está nas relações fora do contexto de trabalho, para analisarmos como a tecnologia tem influenciado a comunicação entre as pessoas.

Como a comunicação digital aproxima pessoas

Sem dúvida, a tecnologia tem o potencial de aproximar indivíduos, especialmente em períodos de distanciamento físico. As chamadas de vídeo, por exemplo, permitem que mantenhamos contato com familiares e amigos, mesmo estando separados por milhares de quilômetros.

Durante a pandemia de Covid-19, essa capacidade de comunicação remota se mostrou ainda mais relevante. Não apenas para trabalho, mas também para momentos de lazer e celebração, como festas de aniversário e encontros virtuais, que ajudaram a amenizar os impactos do isolamento social.

Outro exemplo positivo é a forma como a comunicação digital tem estreitado os laços familiares. Avós que antes não poderiam acompanhar o crescimento dos netos agora têm a oportunidade de vê-los em tempo real através de chamadas de vídeo.

Da mesma forma, pais separados conseguem manter uma presença mais constante na vida dos filhos, independentemente da distância, participando de momentos do dia a dia ou acompanhando atividades escolares e pessoais por meio de recursos digitais.

Além disso, é possível compartilhar instantaneamente fotos, vídeos e atualizações sobre a vida cotidiana, o que ajuda a manter as conexões emocionais vivas, mesmo à distância.

A tecnologia também democratizou o acesso à informação e ao conhecimento. Grupos de interesse, comunidades online e fóruns digitais possibilitam que pessoas com interesses comuns se conectem, compartilhem experiências e até formem laços de amizade duradouros, apesar de barreiras geográficas.

Como a comunicação digital pode afetar o relacionamento pessoal

A mesma tecnologia que pode aproximar também tem o potencial de afastar as pessoas. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celulares e tablets, pode levar à alienação e ao isolamento social. Ao invés de interações face a face, muitos optam por se comunicar por meio de mensagens curtas e rápidas, que muitas vezes não oferecem a profundidade e a conexão emocional que uma conversa ao vivo pode proporcionar.

Esse fenômeno torna-se ainda mais evidente nas redes sociais, onde muita gente busca validação externa por meio de curtidas, comentários e compartilhamentos. Além disso, o tempo excessivo dedicado ao consumo de conteúdo online tende a reduzir as interações com o mundo real, impactando negativamente a qualidade das relações interpessoais.

Outro aspecto preocupante é a superficialidade das relações digitais. Jornalista e professora aposentada do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Sônia Zaramella vê vantagens e desvantagens na comunicação na era digital. Em um texto publicado recentemente, ela relata os sinais de desconforto de pessoas da sua geração (acima de 60 anos) com esse padrão de comunicação nas relações pessoais.

Segundo ela, a prática de telefonar para um amigo ou parente para uma conversa mais longa e atenciosa tem se tornado cada vez mais rara, substituída por interações rápidas no WhatsApp ou por mensagens automáticas, que muitas vezes não passam de formas de comunicação impessoais e pouco envolventes. Isso acaba enfraquecendo os vínculos, tornando a comunicação mais superficial.

Sônia alerta ainda para o fato de que, ao adotar essas formas rápidas de comunicação, as pessoas perdem a oportunidade de vivenciar aqueles momentos de conexão mais profundos, como o simples prazer de uma conversa descontraída.

Em muitos casos, mensagens de aniversário ou felicitações foram substituídas por textos curtos acompanhados de emojis e figurinhas, que, embora eficientes, não têm o mesmo valor emocional que um telefonema ou uma carta escrita à mão.

“E assim o tempo vai passando e aquela prosa sem pressa vai sendo adiada”, destaca a jornalista e professora.

Encontrando o equilíbrio

A chave para uma comunicação digital saudável está no equilíbrio. Encontrar um meio-termo entre a praticidade da comunicação digital e a profundidade da conversa ‘cara a cara’ e ‘olho no olho’ é essencial para os vínculos entre as pessoas.

Os recursos digitais oferecem a oportunidade de encurtar distâncias, facilitar a troca de informações e manter conexões. Porém, é fundamental que essas tecnologias não substituam as interações reais e afetivas, que são essenciais para a construção de relações duradouras e saudáveis. Ao buscar um equilíbrio entre a comunicação digital e as interações presenciais, é possível aproveitar o melhor dos dois mundos, fortalecendo os laços humanos em uma era cada vez mais digital.

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