Cuiabá, 18 de Setembro de 2024

OPINIÃO Quinta-feira, 12 de Setembro de 2024, 08:36 - A | A

Quinta-feira, 12 de Setembro de 2024, 08h:36 - A | A

GABRIEL NOVIS NEVES

Pensar dói

Relata que pesquisadores universitários holandeses chegaram à essa conclusão após analisar cerca de 358 tarefas cognitivas.

GABRIEL NOVIS NEVES

O escritor Ruy Castro publicou recentemente um artigo instigante dizendo que ‘pensar dói’. 

Relata que pesquisadores universitários holandeses chegaram à essa conclusão após analisar cerca de 358 tarefas cognitivas.

A análise foi feita com o auxílio de um programa especial da Nasa, o que dá mais autoridade do que a de pesquisadores limitados a só usar o cérebro.

Certas atividades cerebrais, como fazer cálculos matemáticos, ou tomar decisões que envolvam um sim ou não de vida ou morte, provocam sensações orgânicas que podem ser classificadas como dolorosas. 

Segundo o estudo, quanto maior o esforço mental, maior o desconforto físico. 

Não é preciso pensar muito para se chegar a esse óbvio.

O estudo não considera a hipótese de todo o esforço mental ser relativo. 

Ele pelo menos admitiu certa possibilidade de diferença entre as pessoas, citando estudantes universitários e militares — imagino que cada um numa ponta do espectro cognitivo. 

Continuando, Ruy Castro diz que o que o espanta é a conclusão que ‘pensar dói’ tenha vindo de uma instituição da Holanda, país admirado por produzir pensadores em tantos ramos.

Eram holandeses os dois pilares da filosofia (Erasmo e Spinoza) atividade cuja única ferramenta é o pensamento. 

E não há registro que Erasmo e Spinoza sofressem de lombalgia ou dor de dentes por pensar.

Holandeses foram pintores, como Van Gogh, Rembrandt, e pintar envolve decidir em um segundo se se dá esta ou aquela pincelada.

E alguns dos jogadores mais cerebrais da história do futebol eram holandeses — Cruyff, Van Basten.

Vieram provar que nem sempre o cérebro precisa estar na cabeça.

Os holandeses inventaram também a fita cassete, o CD e o DVD, e temos de lhes ser gratos por isso.

 

Mas depois os desinventaram —e pensar nisso, sim, dói.

(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico e ex-reitor da UFMT.

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