Na véspera do encontro de líderes mundiais, a guerra da Ucrânia ganhou um foco adicional de tensão.
No domingo (17), o presidente dos Estados Unidos Joe Biden autorizou a Ucrânia a atacar o território da Rússia com mísseis americanos de longo alcance.
A decisão é uma mudança na estratégia americana de apoio à Ucrânia contra a invasão russa.
Até agora, os Estados Unidos forneciam armas para que a Ucrânia atacasse alvos no próprio território. A prioridade era a defesa contra a invasão russa.
Agora, deram sinal verde para que a Ucrânia ataque alvos também dentro da Rússia.
A mudança envolve os sistemas de mísseis táticos do Exército Americano: os ‘ATACMS’ – sigla que, na pronúncia em inglês, tem o mesmo som da frase “ataque-os”.
Esses mísseis são mais velozes que outros modelos, podendo voar a 3.700 km/h e têm alcance de até 300 km.
Seria suficiente para chegar a Kursk, região russa que as tropas ucranianas invadiram e ocuparam nos últimos meses, e atacar mais de 250 alvos militares da Rússia.
Mas o sistema não teria alcance para atingir uma cidade como Moscou, por exemplo.
A permissão para usar esses mísseis contra o território russo era um pedido antigo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
A entrada de 10 mil soldados da Coreia do Norte no conflito pesou na decisão do presidente Joe Biden.
Os soldados estariam lutando ao lado dos russos na região de Kursk. Essa é a explicação de fontes do governo americano para a mudança de rota.
Mas a mudança de rota pode ter pouco efeito na guerra. Faltam apenas dois meses para o fim do governo Biden.
Donald Trump, que toma posse em janeiro, disse ao longo da campanha que seria capaz de encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia em apenas um dia.
Ele não apresentou um plano. Mas já sugeriu que poderia cortar gastos com a ajuda militar à Ucrânia.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o cientista político Ian Bremmer avalia que os ataques entre Rússia e Ucrânia devem se intensificar nos próximos dois meses antes de Trump voltar à Casa Branca.
Mas mesmo que haja uma escalada, isso não levaria a uma guerra entre a Rússia e a Otan. Vladimir Putin entende que a eleição de Trump vai ajudá-lo a conseguir seus objetivos na Ucrânia.
O especialista conclui que Trump quer um acordo com ucranianos e russos, então ele provavelmente vai suspender essa permissão.
O presidente ucraniano evitou falar diretamente sobre a decisão americana. Mas avisou:
“Ataques não são feitos com palavras, não são anunciados. Os mísseis falarão por si”, afirmou Volodymyr Zelensky.
O presidente da Rússia não comentou. Já o governo prometeu uma resposta apropriada. O porta-voz do Kremlin reforçou que Vladimir Putin tinha sido muito claro, em setembro, quando disse que tal aprovação significaria um envolvimento direto dos Estados Unidos no conflito.
“Putin já explicou que não é a Ucrânia que realizaria esses ataques com mísseis de longo alcance. E, sim, os países que derem permissão”, disse Dmitry Peskov.
Ele acusou os Estados Unidos de “colocarem ainda mais lenha na fogueira”.
“Essa decisão é imprudente, perigosa”, afirmou.
A notícia gerou reações pelo continente europeu. O chefe da diplomacia da União Europeia defendeu que países do bloco sigam o exemplo dos Estados Unidos.
“A Ucrânia deveria ser capaz de usar as armas que fornecemos para não apenas parar as flechas, mas também atingir os arqueiros”, afirmou Josep Borrell.
O Reino Unido e a França são a favor, mas não está claro se seguirão a nova posição americana. A Alemanha esclareceu que permanece contra. O governo da Itália também e destacou que as armas deveriam ser usadas para defesa.
Na cidade ucraniana de Odessa, um míssil russo atingiu um bairro residencial. Matou dez pessoas e feriu 47 moradores - entre eles, quatro crianças.
A Rússia também bombardeou a região de Sumy. A ofensiva durante a madrugada matou 11 ucranianos e deixou oitenta e nove feridos.