O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, afirmou nesta quarta-feira (5) que os habitantes da ilha não desejam ser nem americanos nem dinamarqueses, em resposta à nova investida do presidente dos EUA, Donald Trump, para controlar a ilha.
"Nós não queremos ser americanos nem dinamarqueses, nós somos groenlandeses. Os americanos e o seu líder precisam de entender isto. Não estamos à venda e não podemos simplesmente ser tomados. O nosso futuro é decidido por nós, aqui na Gronelândia", afirmou Egede em referência à fala de Trump.
A declaração de Egede veio após o presidente dos EUA, Donald Trump, reiterar seu interesse em assumir o controle da ilha do Ártico durante discurso do Estado da União no Congresso dos EUA, na terça-feira (4). Durante seu forte discurso e que abrangeu diferentes temas geopolíticos e de política interna, Trump disse que os EUA obterão controle da Groenlândia "de um jeito ou de outro". Leia mais sobre o discurso abaixo.
Em um momento durante seu discurso, Trump se dirigiu aos 56 mil habitantes groenlandeses, chamou-os de "incríveis", disse "apoiar fortemente" o direito de determinar o próprio futuro e que os EUA os receberão caso escolham ser incorporados pelos americanos.
Localizada no Ártico, a Groenlândia é a maior do mundo e é um território autônomo da Dinamarca. Sua população é composta por uma maioria do povo Inuit.
"Precisamos da Groenlândia para a segurança nacional e até mesmo para a segurança internacional. Estamos trabalhando com todos os envolvidos para tentar obtê-la. Realmente precisamos dela para a segurança global e acho que vamos obtê-la. Vamos obtê-la de um jeito ou de outro", disse Trump no Capitólio.
A fala de Trump ocorre a uma semana das eleições na Groenlândia, marcadas para a próxima terça-feira (11). A campanha eleitoral tem como foco principal as aspirações de independência da ilha, especialmente após o interesse demonstrado pelo presidente americano.
Em resposta a Trump, o ministro da Defesa da Dinamarca, Trouls Lund Poulsen, disse que à imprensa estatal que "isso não acontecerá" e que "a direção que a Groenlândia desejar tomar será decidida pelos groenlandeses".
O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca afirmou mais cedo, nesta quarta-feira, que foi significativo o fato de Trump ter reconhecido o direito da Groenlândia à autodeterminação em seu discurso no Congresso dos EUA.
Discurso do Estado da União
O presidente norte-americano Donald Trump fez nesta terça-feira (4) no Congresso dos EUA o seu primeiro discurso anual do Estado da União de seu novo mandato, sob aplausos de republicanos e protestos de democratas, que empunhavam plaquinhas com os dizeres "Salvem o Medicaid", "Musk rouba" e "Protejam os veteranos".
Em um longo discurso de 1 hora e 40 minutos, o republicano fez um balanço das seis primeiras semanas de seu novo governo.
Listou medidas tomadas nesse período, como o avanço das deportações, a mudança do nome do Golfo do México para o Golfo da América, a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde e a revogação de regulações ambientais postas em prática pela administração anterior.
Trouxe anúncios na área econômica, como a imposição de tarifas recíprocas para países a partir de abril e medidas de fomento à indústria naval dos Estados Unidos.
Também procurou distender os ânimos com Volodymyr Zelensky, citando ter recebido uma carta do presidente ucraniano com a sua intenção de retomar as negociações pela exploração dos minerais terras raras.
Essa foi a primeira menção amigável de Trump a Zelensky após o bate-boca entre os dois líderes na última sexta-feira (28).
Tom combativo e "resgate do sonho americano"
A sessão conjunta, que contou com a presença de congressistas, juízes da Suprema Corte, oficiais das Forças Armadas, o secretariado de Trump e a primeira-dama Melania Trump, começou tumultuada.
Após gritar duramente contra Trump, o deputado democrata Al Green, do Texas, foi retirado do plenário do Capitólio pelo presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson.
O presidente norte-americano manteve um tom combativo, atacando abertamente a administração de Joe Biden, a quem chamou de "pior presidente da história dos EUA". Também efetuou ataques a outros membros proeminentes do partido democrata, como a senadora Elizabeth Warren e Stacey Abrams.
Usando da temática já explorada na campanha eleitoral de retornar "a América a era de ouro", o republicano resgatou ideias tidas como controversas, como a retomada do controle do Canal do Panamá e a incorporação da Groenlândia ao território norte-americano.
O presidente também usou a tribuna do Capitólio para falar contra políticas de diversidade fomentadas pelo governo federal dos Estados Unidos, doméstica e internacionalmente.
"Nós acabamos com a tirania da chamada política de diversidade, equidade e inclusão de todo o governo federal. Nosso país não será mais 'woke' ", falou Trump.
Destaque para Elon Musk
A presença de Elon Musk nas galerias do Capitólio foi destacada pelo presidente republicano, que usou um trecho do seu discurso para agradecer o trabalho do bilionário à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
Sob a liderança do homem mais rico do mundo, o DOGE vem desmontando agências governamentais, diminuindo o número de funcionários federais e adquirindo acesso a dados sensíveis do governo, gerando a reação de tribunais.
Em outro aceno a Musk, Trump disse, de maneira vaga, que irá colocar "a bandeira americana em Marte".
Mais tarifas no horizonte
Outro ponto comentado pelo republicano em seu discurso é a política protecionista que vem determinando a relação comercial dos Estados Unidos com outras nações.
"Nós fomos roubados por décadas por todos os países da face da Terra, e não vamos deixar isso acontecer mais", Trump disse sobre as tarifas que está impondo a rivais e parceiros comerciais.
O Brasil foi citado por Trump como sendo um dos países que usam tarifas de maneira "injusta" contra os Estados Unidos.
Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto", disse Trump.
Após ter anunciado na última segunda-feira (4) taxas de importação de 25% para México e Canadá, com vigor imediato, o presidente norte-americano ressaltou em seu discurso que irá estabelecer taxas recíprocas para todos os países a partir do mês que vem.
"No dia 2 de abril, entram em vigor tarifas recíprocas, e qualquer tarifa que nos impuserem, nós também imporemos a eles... qualquer imposto que nos cobrarem, nós os taxaremos. Se usarem barreiras não monetárias para nos manter fora de seus mercados, então usaremos barreiras não monetárias para mantê-los fora do nosso mercado".