Os promotores do caso Gisèle Pelicot pediram a pena máxima para Dominique, o ex-marido da vítima, que a dopou e a estuprou durante anos sem que ela tivesse conhecimento, além de ter convidado dezenas de homens para violar a mulher.
Depois de audiências que se estenderam por quase três meses, o julgamento na cidade de Avignon, no sul do país, entra na fase final nesta segunda (25), com os promotores dizendo os veredictos que desejam para os 51 acusados.
Eles começaram focando em Dominique Pelicot, o homem com quem Gisèle Pelicot, de 71 anos, foi casada por quase 50 anos. Ele reconheceu que durante anos misturou sedativos em sua comida e bebida, para poder estuprá-la e também convidar dezenas de estranhos para participar dos atos.
A promotora Laure Chabaud pediu a pena máxima possível por estupro agravado – 20 anos – contra o agora ex-marido de Gisèle. O homem de 72 anos olhava para o chão, com uma das mãos no cabo da bengala, enquanto o promotor falava.
“Vinte anos entre as quatro paredes de uma prisão”, disse Chabaud. “É muito e não é suficiente.”
Espera-se que o tribunal entregue seus veredictos antes de 20 de dezembro. Antes disso, até o dia 13, as alegações finais das defesas também serão ouvidas.
"O que está em jogo não é uma condenação ou absolvição, e sim uma mudança fundamental das relações entre homens e mulheres", disse o também promotor Jean-François Mayet, no início das alegações finais.
"Este julgamento está sacudindo nossa sociedade no que diz respeito à nossa relação com os outros e às relações mais íntimas entre os seres humanos", acrescentou o representante do Ministério Público ao lado de Chabaud.
Após 11 semanas de julgamento, o pedido de penas coincide com o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.
Réu confesso
Dominique Pelicot admitiu os fatos e se esforçou durante o julgamento para desmontar a defesa dos demais réus, incluindo vários que alegaram que pensavam participar de um jogo sexual de um casal "libertino".
A maioria dos demais acusados, com idades entre 26 e 74 anos, também enfrenta a possibilidade de penas de até 20 anos de prisão por estupro com agravante.
O julgamento esteve muito presente durante as manifestações do fim de semana na França, nas quais milhares de pessoas denunciaram a violência contra as mulheres e pediram o reforço da legislação para prevenir os crimes de gênero.
A repercussão do processo também é mundial. Diante do presidente francês, Emmanuel Macron, a presidente da Câmara dos Deputados, Karol Cariola, elogiou a "coragem e dignidade" de Gisèle, uma "cidadã comum que deu uma lição ao mundo"