Os drones “suicidas” com inteligência artificial (IA) da Coreia do Norte podem estar sendo treinados para identificar e atacar autonomamente equipamentos sul-coreanos e dos Estados Unidos.
A informação foi divulgada por um legislador da Coreia do Sul à agência de notícias Yonhap na sexta-feira (28), um dia depois de a mídia estatal norte-coreana dizer que o líder Kim Jong-un supervisionou testes de novos drones “suicidas” que demonstraram “eficácia”.
Fotos divulgadas pela KCNA, a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte, mostraram os drones do país atingindo alvos visualmente semelhantes aos equipamentos militares da Coreia do Sul e dos EUA.
Nas imagens, é possível ver um equipamento parecido com o sistema móvel de mísseis terra-ar de longo alcance usado pela Coreia do Sul e um veículo similar ao Stryker, um blindado de combate dos Estados Unidos.
Testes e aeronave de alerta
Durante os testes, realizados no Complexo de Tecnologia Não Tripulada, Kim Jong-un acompanhou o desempenho de drones “assassinos”, projetados para missões de ataque, e de drones de reconhecimento estratégico, capazes de rastrear alvos táticos e monitorar atividades inimigas em terra e mar.
A KCNA disse que os aparelhos demonstraram eficácia ao atingir alvos e que Kim elogiou o “valor estratégico” da tecnologia de IA incorporada aos artefatos.
“O campo de equipamentos não tripulados e inteligência artificial deve ser priorizado na modernização das forças armadas”, disse o líder norte-coreano, de acordo com a agência estatal.
A Coreia do Norte também exibiu pela primeira vez uma aeronave de alerta aéreo antecipado (AEW, na sigla em inglês), veículo equipado com um domo de radar que detecta aeronaves e embarcações a longa distância.
Fotos divulgadas pela mídia estatal mostram Kim inspecionando o avião, que sobrevoou a área em baixa altitude durante os testes. À Reuters, o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, que monitora o país vizinho, disse que a Rússia pode ter contribuído para o desenvolvimento da aeronave.
O desenvolvimento armamentista norte-coreano ocorre em meio à colaboração militar com Moscou. O Exército da Coreia do Sul disse na quinta-feira (27) que, entre janeiro e fevereiro deste ano, Pyongyang enviou mais 3 mil soldados à Rússia para apoiá-la na guerra contra a Ucrânia.
Esta é a segunda onda significativa de mobilização de soldados norte-coreanos para a guerra. Eles se juntam aos outros 11 mil combatentes destacados desde outubro do ano passado.
O exército sul-coreano estima que cerca de 4.000 desses soldados já foram mortos ou feridos em combate, a maioria na região russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, onde muitos deles foram alocados.
O Serviço Nacional de Inteligência (NIS) da Coreia do Sul atribui as pesadas baixas norte-coreanas à falta de experiência das forças de Kim Jong-un em ataques de drones, que marcam o conflito.
Ainda assim, o NIS reconhece que as tropas da Coreia do Norte têm adquirido experiência em táticas e operações com drones. Há indícios de que o país pode estar recebendo tecnologia da Rússia como contrapartida ao envio de soldados.
Investimento em drones
A divulgação dos drones e da aeronave AEW condiz com a ambição de Kim de fortalecer as capacidades de reconhecimento e ataque do país, que ainda larga atrás de rivais do regime, como a Coreia do Sul e os Estados Unidos.
Em agosto e novembro do ano passado, o líder já havia supervisionado testes de drones suicidas, movimento visto como inspirado pelo uso intensivo dessas armas no conflito Rússia-Ucrânia.
“É importante moldar um plano de longo prazo para o rápido desenvolvimento dessas tecnologias, seguindo a tendência da guerra moderna”, disse Kim durante os testes, segundo a KCNA.
Embora a aeronave de alerta tenha impressionado visualmente, os militares sul-coreanos questionam sua capacidade operacional, descrevendo-a como “grande, pesada e suscetível à interceptação”, segundo a agência de notícias Yonhap.
Analistas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres apontam que, apesar de ampliar a vigilância aérea, uma única unidade não seria suficiente, e converter mais cargueiros em novas AEW poderia comprometer a frota norte-coreana.
Kim também aprovou planos para expandir a produção dos drones e expressou satisfação com os “novos sistemas de armas de ataque e interferência eletrônica” em desenvolvimento, sinalizando uma transformação “qualitativa e quantitativa” no arsenal do país.