Cuiabá, 01 de Abril de 2025

INTERNACIONAL Sábado, 22 de Março de 2025, 08:09 - A | A

Sábado, 22 de Março de 2025, 08h:09 - A | A

Política anti-imigratória

Medo de deportação nos EUA paralisa comércio no Queens

Lojas de roupa, mercearias, restaurantes e barracas de comida se queixam que o negócio caiu entre 40% e 60% desde que o republicano assumiu o poder

O Globo com AFP

"Desde janeiro de 2025, ninguém sai à rua, nem compra móveis porque as pessoas têm medo de serem detidas ou deportadas", conta Nader, que foi obrigado a fechar sua loja em Corona, um dos bairros mais latinos do Queens, onde a política anti-imigratória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou casas praticamente vazias. Para ele, esta é "a pior crise" em seus 35 anos no ramo dos móveis.

— O trabalho está quase morto — resume Nader, que é americano de origem palestina.

A outrora movimentada praça de Corona, o epicentro do Queens, um dos bairros mais multiculturais de Nova York, está quase vazia e os poucos transeuntes caminham rapidamente.

— Às vezes, fico até três dias sem nenhuma venda — relembra um vendedor de 57 anos, desolado pelo futuro incerto.

Sua clientela — majoritariamente da Guatemala, muitas vezes sem documentos, como muitos moradores do bairro — está ameaçada pela política de "deportação em massa" anunciada pelo presidente.

De acordo com o vendedor, quase ninguém se arrisca a comprar um colchão ou uma cômoda diante da perspectiva de ter que deixar tudo para trás em caso de deportação.

— Se Trump dissesse: "Ninguém vai tocar nessas pessoas que não têm documentos", a situação melhoraria. Em vez disso, ele diz que quer expulsar ainda mais pessoas — lamenta Nader.

Compras despencaram entre 40% e 60%
Lojas de roupa, mercearias, restaurantes, agências bancárias e barracas de comida também se queixam de que o negócio caiu entre 40% e 60% desde o início do ano.

Na operadora de telefones onde Javier trabalha, as vendas caíram pela metade. Seus clientes reduziram os planos ou se limitam a pagar o mínimo para não perder a linha. Segundo ele, a maioria prefere esperar antes de comprar um aparelho novo.

— Antes, as pessoas gastavam sem nenhum problema. Agora, saem do trabalho e podem não voltar para casa — explicou o mexicano, de 31 anos.

Por precaução, Javier, como muitos de seus conhecidos, levou todas as suas economias para o México.

Quase 30 mil pessoas foram deportadas

Ao contrário dos primeiros dias do governo Trump, agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE), encarregados de prender e deportar imigrantes sem documentos, raramente são vistos na vizinhança. No entanto, o medo ainda está presente.

— E isso vai continuar por quatro anos — prevê o mexicano. — O que vai acontecer se eles continuarem a deportar? Os pequenos negócios do bairro vivem uns dos outros. É uma economia que está simplesmente distribuída aqui.

Segundo dados do ICE, entre 20 de janeiro e 12 de março, 28.319 pessoas foram deportadas em todo o país.

Os estrangeiros na mira são os que "cometem delitos" e aqueles "que violaram as leis de imigração americanas", segundo as autoridades. Aqueles que não têm (mais de 11 milhões no país) e entraram ilegalmente se enquadram nessa categoria.

Medo à flor da pele
Além do fechamento dos comércios e das demissões, os empregadores começaram a dispensar os trabalhadores sem documentos, antecipando as possíveis consequências. O equatoriano Francisco López, que trabalha na construção, se queixa de que agora a cada "quinze dias" os empregadores trocam de funcionários. Ele, por exemplo, foi pago com um cheque sem fundo.

A mexicana Acelina (nome fictício), de 53 anos, tem uma barraca de comida na praça de Corona e também sofreu com as consequências da política anti-imigração do governo.

 No ano passado, ganhava diariamente em torno de US$ 400 a 500 (de R$ 2,2 a R$ 2,8 mil). Com esse dinheiro, precisava pagar pelo transporte, alugar sua cozinha e barraca, comprar suprimentos e sustentar seus quatro filhos, que são cidadãos americanos. Agora, tem dias que ela não ganha mais que US$ 140 dólares (cerca de R$ 792).

— Tenho que vir trabalhar mesmo com medo — diz Acelina, que tenta tranquilizar seus filhos mais novos, que temem que ela possa ser deportada.

Ela pensa em dar à sua filha mais velha, de 21 anos, a guarda dos irmãos caso algo aconteça com ela.

— Vocês são americanos, podem ir me visitar no México — diz ela aos filhos.

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