Em uma operação estratégica na cidade de Kursk, porção oeste da Rússia, um soldado ucraniano das forças especiais, identificado apenas como “Green”, revelou como sua unidade conseguiu capturar um combatente norte-coreano que lutava ao lado do exército russo.
A operação aconteceu em dezembro de 2024, quando drones ucranianos sobrevoaram a área, localizando tropas norte-coreanas se preparando para atacar o leste da Ucrânia.
O comandante das forças especiais do país, Oleksandr Syrskyi, que também participou diretamente da incursão, relatou como a missão foi planejada. O principal objetivo, além de neutralizar as tropas russas na região, era capturar um soldado norte-coreano vivo.
“Queríamos agir primeiro, antes que eles nos atacassem”, dise Green à revista Newsweek. “Nossa missão era clara: avançar de forma furtiva e, se fosse possível, capturar um prisioneiro de guerra, algo que ninguém havia conseguido até então”, afirmou o soldado.
Com a cobertura da vegetação densa de Kursk, os soldados ucranianos avançaram silenciosamente, se aproximando dos norte-coreanos como “fantasmas”, sem serem detectados, relatou Green.
“Assim que vimos a oportunidade, atacamos”, lembra Green, detalhando como a força de elite agiu rapidamente, pegando os norte-coreanos desprevenidos.
A batalha foi rápida e intensa, segundo o membro da elite militar ucraniana. “Eles entraram em pânico e recuaram”, afirmou Green. No entanto, o grande objetivo da missão – capturar um prisioneiro vivo – ainda precisava ser alcançado.
Durante o combate, um dos soldados de Pyongyang, ferido e atordoado, foi encontrado escondido entre as árvores, tentando fugir.
“Ele estava gravemente ferido, com sangue espalhado por sua roupa”, lembrou Green. Após um momento de hesitação, o soldado norte-coreano foi convencido a entregar sua granada de mão e seu rifle, embora ainda estivesse visivelmente confuso.
Utilizando palavras em coreano que aprenderam meses antes, os soldados ucranianos se comunicaram com o soldado de Pyongyang, pedindo que entregasse as armas.
“Ele nos olhou com desconfiança, mas, ao perceber que sua situação era desesperadora, entregou o armamento”, explicou Green.
Uma evacuação improvisada foi necessária para retirar o prisioneiro da linha de fogo. O soldado ucraniano e sua equipe criaram uma maca rudimentar e carregaram o prisioneiro entre minas terrestres e disparos de artilharia inimiga.
“Estávamos sob constante ataque. Sabíamos que o tempo era contra nós”, descreveu Green.
Para o soldado, o sucesso da operação foi uma vitória estratégica. “Cada fase da missão foi executada de maneira impecável, sem complicações e, o mais importante, sem baixas do nosso lado”, afirmou.
O soldado ucraniano ainda expressou frustração por não ter interrogado o prisioneiro para obter informações estratégicas. “Era uma oportunidade única de obter informações valiosas”, diz Green.
Captura inédita
A captura de um soldado norte-coreano em solo russo foi uma vitória importante para o exército ucraniano, especialmente porque, durante os combates em Kursk, muitos soldados norte-coreanos preferiam se suicidar a serem capturados.
Relatórios de Kiev indicavam que, para evitar a prisão, vários combatentes norte-coreanos optavam por tirar suas próprias vidas.
Embora a Ucrânia não tenha a intenção de controlar permanentemente as áreas de Kursk, sua presença no território russo foi um grande incômodo para o Kremlin e também se tornou uma moeda de troca nas negociações de cessar-fogo.