Quase um terço dos indígenas brasileiros (29%, ou 470.250 pessoas) vive sem abastecimento de água, sem sistema de esgoto e sem coleta de lixo adequados, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (4).
Os dados não levam em consideração os indígenas que vivem em habitações sem paredes ou malocas – cabanas grandes de madeira e palha onde várias famílias vivem juntas, e que respondem por uma parcela pequena da população indígena brasileira (3% ou 52.249 pessoas).
Considerando os indígenas que vivem em condições precárias de pelo menos uma das situações (sem água, ou sem esgoto ou sem coleta de lixo adequados), o percentual sobe para mais de dois terços (69%, ou 1,1 milhão de pessoas) e, nas terras indígenas, para 96% (545.706 pessoas) – veja nos números abaixo.
Abastecimento de água
- População brasileira: 6% não têm abastecimento adequado;
- População indígena total: 38% não tem;
- Indígenas dentro das terras indígenas: 69% não têm.
Esgoto
- População brasileira: 24% não têm
- População indígena total: 60% não têm
- Indígenas dentro das terras indígenas: 85% não têm
Coleta de lixo
- População brasileira: 9% não têm
- População indígena total: 45% não têm
- Indígenas dentro das terras indígenas: 86% não têm
'A solução não é ir todo mundo para a cidade'
Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, diz que é possível ter políticas públicas para melhorar as condições de saneamento básico dos povos indígenas sem precisar mudar a organização social e espacial dos territórios indígenas.
“A solução não passa por mudar as terras, a solução passa por mudar as soluções. Você está garantindo que os indígenas continuem mantendo suas formas de estar, fazer e ser, ao mesmo tempo que possibilita que eles tenham acesso a formas mais adequadas de saneamento básico. A solução não é todo mundo ir para a cidade”, disse.
Marta destaca que, desde 2010, quando ocorreu o Censo anterior, houve avanços nas condições de saneamento básico para os indígenas: o percentual da população indígena que vive sem saneamento de esgoto era de 73% (agora, está em 60%); e sem coleta de lixo era de 72% (agora, 61%).
Taxa de analfabetismo entre indígenas é o dobro
A taxa de analfabetismo entre a população indígena é o dobro do que a taxa nacional. Isso é o que apontam os novos dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (4).
➡️Os dados mostram que 15% dos indígenas maiores de 15 anos não sabiam ler e escrever em 2022. Entre a população geral, esse percentual era de 7%.
Apesar do resultado elevado em comparação ao panorama nacional, a taxa de analfabetismo entre indígenas teve queda de cerca de oito pontos percentuais entre 2010 (ano do censo anterior) e 2022 – passando de 23% para 15%.
Maioria dos indígenas vivem em casas
Os dados do Censo de 2022 mostram também que a maioria dos indígenas (91,9%) vivem em casas – mesmo dentro das terras indígenas (91,4%).
O que vivem em habitações sem paredes ou malocas correspondem a 3,1% da população indígena em geral e 8,1% dos que vivem em malocas (veja os números abaixo).
Casa
- População brasileira: 84,7%
- População indígena total: 91,9%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 91,4%
Casa de vila ou condomínio
- População brasileira: 2,4%
- População indígena total: 1,1%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 0,1%
Apartamento
- População brasileira: 12,5%
- População indígena total: 3,5%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 0,02%
Habitação em casa de cômodos ou cortiço
- População brasileira: 0,2%
- População indígena total: 0,2%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 0,2%
Habitação indígena sem paredes ou maloca
- População brasileira: 0,03%
- População indígena total: 3,1%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 8,1%
Estrutura residencial permanente degradada ou inacabada
- População brasileira: 0,04%
- População indígena total: 0,08%
- Indígenas dentro das terras indígenas: 0,07%
Dados do Censo 2022
Veja o que Censo de 2022 já permitiu saber:
- O Brasil tem 203 milhões de habitantes, número menor do que era estimado pelas projeções iniciais;
- O país segue se tornando cada vez mais feminino e mais velho. A idade mediana do brasileiro passou de 29 anos (em 2010) para 35 anos (em 2022). Isso significa que metade da população tem até 35 anos, e a outra metade é mais velha que isso. Há cerca de 104,5 milhões de mulheres, 51,5% do total de brasileiros;
- 1,3 milhão de pessoas que se identificam como quilombolas (0,65% do total) – foi a primeira vez na história em que o Censo incluiu em seus questionários perguntas para identificar esse grupo;
- O número de indígenas cresceu 89%, para 1,7 milhão, em relação ao Censo de 2010. Isso pode ser explicado pela mudança no mapeamento e na metodologia da pesquisa para os povos indígenas, que permitiu identificar mais pessoas;
- Pela primeira vez, os brasileiros se declararam mais pardos que brancos, e a população preta cresceu.
- Também pela primeira vez, o instituto mapeou todas as coordenadas geográficas e os tipos de edificações que compõem os 111 milhões de endereços do país, e constatou que o Brasil tem mais templos religiosos do que hospitais e escolas juntos.
- Após 50 anos, o termo favela voltou a ser usado no Censo.
- O Brasil tinha, em 2022, 49 milhões de pessoas vivendo em lares sem descarte adequado de esgoto. Esse número equivale a 24% da população brasileira. Já a falta de um abastecimento adequado de água atingia 6,2 milhões de brasileiros.
- Mais da metade dos 203 milhões de brasileiros – 54,8% – mora a até 150 km em linha reta do litoral.
Em razão de mudança no método de coleta dos dados, não é possível avaliar o que mudou em relação ao abastecimento de água.