As redes sociais, como Facebook e Instagram, transformaram-se em plataformas centrais na formação de bolhas sociais, exacerbando a polarização e dificultando o consenso. Recentemente, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou uma revisão significativa nas políticas de moderação de suas plataformas, gerando preocupações sobre o impacto dessas mudanças em um mundo já fragmentado e volátil. Este artigo examina os erros estratégicos de Zuckerberg ao adotar uma postura que pode acelerar a inflexão social e gerar desconfiança em tempos de crescente influência da inteligência artificial.
A evolução das redes sociais transformou a forma como a informação é consumida, tornando-as grandes formadoras de bolhas. Algoritmos inteligentes promovem conteúdos que reforçam crenças existentes, ao invés de fomentar o diálogo entre diferentes pontos de vista. Esse fenômeno resulta em uma eletrólise social, dividindo comunidades e dificultando a construção de consensos vitais para o progresso coletivo. Nos últimos anos, temos observado como essa polarização alcançou níveis insustentáveis em diversos países. Governos enfrentam desafios crescentes para unificar suas populações e resolver crises sociais, econômicas e ambientais. As redes sociais, ao priorizarem o engajamento sobre a verdade, amplificam essas divisões, criando um ciclo vicioso de desinformação e ódio.
Zuckerberg anunciou a substituição dos verificadores de fatos por um sistema de "notas de comunidade", similar ao usado pela rede social X (antigo Twitter). Embora possa parecer uma tentativa de promover a liberdade de expressão, essa abordagem negligencia o papel crítico das plataformas na verificação de informações, especialmente em tempos de fake news e desinformação em massa. A decisão de confiar na comunidade para moderar conteúdo ignora a realidade de que muitos usuários permanecem presos em suas bolhas, involuntariamente perpetuando inverdades. Nesse contexto, ao invés de agir como mediadoras neutras, as plataformas podem se tornar catalisadoras de desordem social. A redução dos filtros automatizados para focar apenas em violações graves pode permitir que conteúdo problemático prospere, intensificando a divisão e desentendimentos.
A controvérsia de Cambridge Analytica revelou como os dados dos usuários podem ser manipulados para influenciar eleições e opinião pública. Esse escândalo destacou a necessidade crítica de regulação e práticas éticas por parte das plataformas sociais. A nova postura da Meta, que retira mecanismos de proteção, evoca memórias desse caso, sugerindo um retorno a práticas que desrespeitam a privacidade e segurança digital dos usuários.
Em tempos em que a inteligência artificial avança rapidamente, confiar nas redes sociais para autogerenciar sua moderação é arriscado. A IA tem o potencial de amplificar a inteligência humana, mas também de perpetrar preconceitos e desinformação em uma escala sem precedentes. As plataformas precisam ser mais responsáveis, não menos, e garantir que suas tecnologias sirvam ao bem comum, em vez de instigar conflitos.
A postura de Zuckerberg em relação à moderação de conteúdo na Meta é profundamente preocupante. Em um mundo no qual a coesão social é cada vez mais frágil, as redes sociais devem atuar como parceiras na busca por entendimento e verdade. O caminho que a Meta decidiu seguir pode contribuir significativamente para a aceleração da inflexão social. Ao negligenciar lições do passado, como Cambridge Analytica, e subestimar os desafios da IA, a Meta coloca em risco não só sua credibilidade, mas também o equilíbrio das sociedades globais.
Como especialistas em marketing e tecnologia, devemos questionar e debater essas mudanças, promovendo um uso ético e responsável das plataformas digitais para assegurar que elas continuem a ser forças de bem e progresso em um mundo cada vez mais conectado.
(*) MARCELO SENISE é Idealizador do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, sociólogo e marqueteiro.