“A Quaresma nos convida a um processo contínuo e integral de conversão e, em vez de separar, coisificar, monetizar e explorar os bens recebidos por egoismo e consumismo desenfreado, a CONVERSÃO ECOLÓGICA nos remete `a unidade, `a harmonia e ao respeito entre natureza e JUSTIÇA SOCIAL. A mudança de vida que vem pela ECOLOGIA INTEGRAL só irá acontecer se começar pela CONVERSÃO ECOLÓGICA pessoal (e comunitária) e se estender nos gestos e ações de cuidado para com o outro e a natureza, começando em nossas casas, em nossas comunidades eclesiais, em nossos bairros, nossas cidades, em nosso país e em toda a CASA COMUM” Apresentação, Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2025.
Estamos em plenos preparativos para a Campanha da Fraternidade 2025, que deverá se desenvolver durante o período da Quaresta do próximo ano, entre os dias 05 de Março (Quarta feira de Cinzas) e 13 de Abril (Domingos de Ramos), quando ocorre o “gesto concreto e marcante dessas Campanhas, que é a Coleta Nacional da Solidariedade”, que dá suporte aos Fundos Nacional, Arquidiocesanos e Diocesanos de Solidariedade, para que a CARITAS Brasileira e suas filiadas nos diversos níveis da Igreja, em todos os Estados da Federação e DF, possam realizar projetos e ações que propiciam resgatar a dignidade de pobres e excluidos, ainda em milhões em nosso país, através de ações sociotransformadoras e de MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA. Combater e enfrentar os desafios da pobreza, da miséria, da fome exigem muito mais do que meras medidas paternalistas e assistencialistas.
Por isso é que a Caritas enfatiza tres níveis de fraternidade/solidariedade: a emergencial; a promocional e a LIBERTADORA, esta última é a única que propicia a transformação das estruturas injustas e excludentes que existem em todos as sociedades e países, inclusive no Brasil, um dos países que mais concentram renda, riqueza e propriedades no mundo e que geram esses problemas mencionados.
Ao longo de 61 anos de existência, a completar em 2025, as Campanhas da Fraternidade tanto da Igreja Católica quanto no formato ecumênico a cada cinco anos, por oito vezes, já teve como tema diversos desafios socioambientais, demonstrando o compromisso da Igreja e dos cristãos em geral e católicos em particular, no enfrrentamento de tais desafios e possibilitar não apenas formas de mitigação de tais problemas, mas despertar a consciência dos fiéis quanto a urgente necessidade de uma conversão ecológica individual e, principalmente, comunitária, base e fundamento para mudanças mais profundas nas estrururas dos sistemas produtivos, principalmente sob o sistema capitalista,que, conforme o Papa Francisco são embasadas em uma “economia da morte”.
Isto implica substituir tais paradígmas dos atuais sistemas produtivos e das relações de produção, de trabalho e de consumo, por outros que possibilitam que o mundo passe de uma economia da morte para uma economia da vida, solidária, agroecológica que respeite as relações das pessoas entre si; das pessoas com as obras da criação e das pessoas com Deus, o Criador.
A Campanha da Fraternidade de 2025, trouxe `a tona, para reflexões mais profundas, de forma crítica e criadora, o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, tendo como lema “Deus viu que tudo era muito bom”.
Para nortear esta Campanha da Fraternidade foram estabelecidos o Objeito Geral “promover o espírito Quaresmal e em tempo de urgente CRISE SOCIOAMBIENTAL, um processo de CONVERSÃO INTEGRAL, ouvindo o GRITO DOS POBRES E DA TERRA”.
Este objetivo geral foi desdobrado em objetivos específicos, para facilitar tanto a compreensão, quanto a profundidade do que se pretende atingir, não apenas durante o período da Quaresma, mas ao longo do tempo, como ações permanentes da Igreja.
Não podemos despertar a consciência ecológica nas pessoas e nas instituições e simplesmente não dar continuidade `as ações sociotransformadoras e `a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, como as vezes tem acontecido com diversos tipos de ações, gerando descrédito, desconfiança e certa frustração quanto ao “compromisso” da igreja e dos cristão diante da crise socioambiental, principalmente entre leigos e leigas engjados nas atividades da Igreja.
Dentre os Objetivos específicos mencionados no Texto-Base, destacamos os seguintes: 1) Denunciar os males que o modo de vida atual impõe ao Planeta; 2) Apontar as causas graves da CRISE CLIMÁTICA global, a urgência de alteração profunda no nosso modo de vida e as falsas soluções; 3) Esplicitar a DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA e assumir o compromisso com a conversão integral; 4) Propor a ECOLOGIA INTEGRAL como perspectiva da conversão e elemento transversal `as dimensões litúrgica, catequética, e sociotransformadora do compromisso cristão; 5) Incentivar as Pastorais (acrescimo meu…principalmente as Pastorais da Ecologia Integral) e movimento socioambientais, em articulação com outras Igrejas, Religiões, sociedade civil, povos originários e comunidades tradicionais, em vista da JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL e da atuação socioeducacional; 6) promover e apoiar ações efetivas que visem a MUDANÇA DO MODELO ECONÔMICO que ameaça a vida em nossa CASA COMUM; 7) Apoiar os atingidos por catástrofess naturais e as VÍTIMAS dos CRIMES AMBIENTAIS em sua busca por reparação e JUSTIÇA; 8) Celebrar os DEZ ANOS da Encíclica LAUDATO SI, do Papa Francisco, (em Maio de 2025) acolhendo a Laudate Deum e avançando com as temáticas que já foram abordadas em outras Campanhas da Fraternidade.
Como podemos perceber, os Objetivos , principalmente os específicos, da Campanha da Fraternidade de 2025 não serão plenamente alcançados em um período tão curto que é a Quaresma (apenas 40 dias), ou mesmo durante um ano, razãao pela qual o cuidado com a Caasa Comum, representa uma luta contínua e permanente, a ser travada contra grupos econômicos que teimam em não respeitar a natureza, nem os direitos dos trabalhadores, dos consumidores e das próximas gerações.
Diante disso, cremos que a Igreja como Instituição e também como Corpo de Cristo, onde estão incluidos todos os fiéis, batizados em igualdade perante a Cabeça da Igreja que é o Cristo Ressuscitado, e também o Pai e o Espírito Santo, distante do clericalismo, deve agir diuturnamente para alcançar a CONVERSÃO ECOLÓGICA, a começar por nós próprios cristãos, católicos e evangélicos, e assim, mudarmos não apenas nosso estilo de vida individual consumista, mas também no nível coletivo, que alimentam a economia do descarte e da destruição da natureza e, também, caminharmos para a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, que é o caminho para as transformações estruturais, que representam a substituição do modelo de uma economia da morte, por outro modelo que é a economia da vida.
Neste contatexto, todas as pastorais, movimentos e organismos da Igreja devem agir de forma articulada, integrada, com o mesmo foco. Destaque especial deve caber `as Pastorais da Ecologia Integral, que desde 1986, ao ser criada como a primeira Pastoral do Meio Ambiente na Diocese de Tubarão, bem antes da Encíclica Laudato Si, em que o Papa Francisco deu um grande passo no sentido de apontar os caminhos que a Igreja deve seguir, se realmente deseja superar todas as formas de omissão e demonstrar seu compromisso evangélico de com um melhor cuidado com todas as Obras da Criação, esta é a base da Espiritualidade Ecológica que as Pastorais da Ecologia Integral tem como o seu farol.
A Campanha da Fraternidade, tanto na elaobração do Texto Base quanto no seu desenvolvimento, incluindo no treinamento das equipes de animação nas Paroquias, Dioceses e Arquidioceses utiliza o Método da Igrreja, ja bastante consagrado, que também foi utilizado pelo Papa Francisco quanda da elaboração e publicação Laudato Si, que tem tres passos básicos: VER, JULGAR e AGIR.
O Documento Base segue este método, mas em uma dimensão global. Tendo em vista a dimensão territorial do Brasil, seus seis Biomas, bem distintos: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mato Atlantica, Caatinga e Pampas, definindo os territórios onde estão presentes as Igrejas Locais, é fundamental que no desenvolvimento da Campanha da Fraternidade o Método: VER, JULGAR e AGIR seja adaptado para cada realidade concreta com seus próprios desafios socioambientais, e isto pode ser bastante facilitado quanto as Igrejas locais tem pastorias sociais, inclusive a Pastoral da Ecologia Integral, devidamente estruturadas e atuantes. Sem isto, tudo não passará de um despertar da consciência ecológica, sem ações sociotransformadoras, o que mais estamos precisando no momento na Igrreja. Este tem sido o foco das constantes exortações do Papa Francisco prestes a completar dez anos.
Temos um grande desafio pela frente no antes, no durante e no após Campanha da Fraternidade 2025, que é articular nossas ações para que as Pastorais da Ecologia Integral possam ser estruturadas em todas as Arquidioceses, Dioceses, Paroquias e Comunidades do Brasil inteiro e, assim, serem o insrtrumento de transformação e de estímulo `a CONVERSÃO ECOLÓGICA, rumo a uma verdadeira CIDADANIA ECOLÓGICA.Te
A Igreja Católica está presente em todos os Estados e todos os municípios do Brasil. São mais de 12 mil Paróquias e mais de 120 mil comunidades eclesiais e milhões de fiéis que diariamente ou semanalmente acorrem a esses templos, no entanto em apenas um número pouco expressivo dessas a Pastoral da Ecologia Integral está organizada e atuando.
Para se ter uma idéia, em toda a região Centro Oeste, que compreende os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal onde estão tres biomas que são o Pantanal, o Cerrado e parte da Amazônia, muito vulneráveis e que tem sofrido com inúmeros problemas socioambientaais, existe apenas uma Pastoral da Ecologia Integral, que é a da Arquidiocese de Cuiabá.
A Campanha da Fraternidade 2025 com certeza irá despertar e motivar dezenas de milhares, talvez milhões de pessoas com suas mensagens da ECOLOGIA INTEGRAL, mas se não houver um mecanismo de aglutinar essas pessoas, boa parte do esforço acabará se perdendo e iremos continuar assistindo os desastres e as crises socioambientais, tanto no Brasil quanto nos demais países.
Um desses, talvez o mais efetivo, mecanismo para desenvolver ações sociotransformadoras e de mobilização profética, buscando um melhor cuidado com a CASA COMUM, sem sombra de dúvida é a Pastoral da Ecologia Integral.
Temos certeza que bem enraizada a Campanha da Fraternidade 2025 atenderá o clamor do Papa Francisco quando publicou a laudato Deu e disse textualmente de sua decepção diante da morosidade como o enfrentamento da Crise Climática estava ocorrendo, mesmo com oito anos da publicação da Encíclica Laudato Si, creio que a situação desde então até as comemorações do décimo aniversario da publicação da citada encíclica pouco ou nada tenha mudado.
A Igreja e os cristãos não podem ser vagarosos e omissos (lembrando que para a Igreja a OMISSÃO é um pecado) quando a degradação do planeta, nossa Casa Comum caminha de uma forma muito rápida.
Para encerrar esta reflexão, vejamos o que disse o Papa Francisco ao encaminhar suas preocupações ecológicas aos participantes da COP28, que depois se transformou na Exortação Apostólica Laudate Deum (em 04 de Outubro de 2023) “2. Já passaram oito anos desde a publicação da carta encíclica Laudato Si, quando quis partilhar com todos vós, irmãs e irmãos do nosso maltratado planeta, a minha profunda preocupação pelo cuidado da nossa casa comum. Mas, com o passar do tempo, dou-me conta de que não estamos a reagir de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe, está-se esboroando e talvez aproximando dum ponto de rutura. Independentemente desta possibilidade, não há dúvida que o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias. Sentiremos os seus efeitos em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos.
Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, Articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email [email protected] Instagram @profjuacy Whats app 65 9 9272 0052