Cuiabá, 19 de Setembro de 2024

OPINIÃO Terça-feira, 27 de Agosto de 2024, 08:38 - A | A

Terça-feira, 27 de Agosto de 2024, 08h:38 - A | A

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

Ambulatório Trans – Hend Santana

No dia 23 do corrente mês e ano, foi inaugurado tão importante serviço.

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

Por muitos anos, foi tema de pedidos, reuniões, conversas e rodas delas, sobre a necessidade de instalação e funcionamento do ambulatório de transexualidades em Mato Grosso. No dia 23 do corrente mês e ano, foi inaugurado tão importante serviço. 

A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, de maneira insistente, chamou muitos encontros com pessoas representantes de entidades civis organizadas e governo, com a finalidade de trazer empatia, sensibilidade, amor, e necessidade de cumprimento da Constituição Federal. Os direitos humanos foram mencionados, e os muitos princípios que devem garantir a dignidade da pessoa humana e democracia no país foram matéria. A saúde é direito de todos, todas e todes, e dever do Estado!

A luta por conquistas de direitos, mesmo em um Estado Democrático e de Direito, onde o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é mola propulsora, não tem sido a mesma para todas as pessoas.  

É visível que a comunidade LGBTQIAPN+, por ausência de proteção legal, padece sobremaneira, passando por marginalização, violência e falta de oportunidades. O acesso à saúde tem sido um tópico de sofrimento à parte, com falta de serviço adequado, e a falta de capacitação de pessoal, se mesclando aos demais preconceitos institucionais.

Desde 2008 foi instituído no país o processo transexualizador, que passou a permitir o acesso a procedimentos com hormonização, cirurgia, modificação corporal e genital, e o acompanhamento da equipe multidisciplinar. Assim, várias portarias do Ministério da Saúde advieram, inclusive, passando a abarcar mulheres e homens trans pelo serviço.

Mato Grosso era um dos únicos Estados que não possuía o ambulatório transexualizador. A falta vinha trazendo sofrimento atroz para o segmento “T”. Muitas pessoas se automedicaram, fazendo uso de hormônios inadequados. Outras recorreram a hormônios para animais. Notícias de tragédias pela falta do serviço, infelizmente, foram reais. Isso ocorreu por falta de suporte e cuidados apropriados, que acabam comprometendo a saúde física e psíquica de quem necessita do aparelho estatal.

O Ambulatório Trans de Mato Grosso receberá o nome da ativista Hend Santana. Formada em publicidade, foi servidora da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, na Rádio Assembleia. Atriz, cantora, produtora cultural, curadora de arte, pensadora, ativista, radialista e entrevistadora, Hend encantava a quem com ela teve o prazer de conviver. Com coragem, a artista ergueu sua voz para temas de extrema relevância, já que se intitulava: trans, gorda e não-binária.

A sociedade mato-grossense não estava preparada para a partida prematura da Hend. Havia uma infinidade de capítulos que clamavam pela sua presença e representatividade.

Através da sensibilidade da primeira-dama Virgínia Mendes, que atendeu a um pedido das entidades civis organizadas que fazem parte do movimento LGBTQIAPN+ de Mato Grosso, Hend Santana será homenageada e eternizada com o nome do Ambulatório Trans.

Linn da Quebrada disse: “Olha só, doutor, saca só que genial: sabe a minha identidade? Nada a ver com a genital”.

É de se comemorar! Hend Santana, presente!    
         

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.

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