Os fogos de artifício são uma parte tradicional das celebrações de Ano Novo em muitas culturas ao redor do mundo. Esse espetáculo de luzes e cores que ilumina o céu à meia-noite simboliza a alegria, a renovação e o desejo de um futuro próspero. Mas trata-se de uma diversão de alto risco!
Por se tratar de um produto de natureza perigosa e utilizado em eventos festivos com grande concentração de pessoas, muitas vezes manuseado indevidamente e, por vezes, associado ao uso de bebidas alcoólicas, frequentemente causa graves acidentes.
Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão e Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia divulgou que mais de 5000 pessoas entre 2008 e 2017 foram internadas vítimas de acidentes por fogos de artifício. Ainda apontaram que homens representaram maioria absoluta dos registros, com 83% do total de casos. E que 39% das internações registradas no período analisado envolviam crianças e adolescentes de até 19 anos.
Um estudo do Inmetro que avaliou 08 marcas de fogos de artifício concluiu que 05 delas não apresentaram conformidades de segurança.
O Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) orienta que todo fogo de artifício deve conter em sua embalagem a classificação e outras informações obrigatórias. Além das instruções de uso, devem constar o nome correto do fogo de artifício (foguete, rojão etc.), a data de fabricação e validade, peso bruto e peso líquido, número de registro no Exército, responsável técnico e seu registro profissional (em geral, engenheiro químico), procedência (fabricante e comerciante e respectivos CNPJ e endereço), bem como a classe do produto.
As aquisições devem ser em lojas certificadas e vistoriadas pelo Corpo de Bombeiros e precisam contar com funcionários que sejam certificados em Blaster (que licencia uma pessoa a fazer a detonação de artefatos pirotécnicos), capacitados para fornecer orientações sobre o uso desse tipo de material.
Para evitar acidentes é importante não segurar os fogos de artifício com as mãos ou transportar nos bolsos; ler atentamente as orientações presentes no rótulo do produto; não soltar fogos de artifício em locais fechados; posicionar o topo do foguete para cima, de forma perpendicular ao solo e acionar os fogos em locais afastados das pessoas, em áreas abertas e sem fiação elétrica.
Os acidentes variam conforme a gravidade. Registros dos serviços hospitalares de emergência apontam que cerca de 70% deles sofrem queimaduras; 20% apresentam cortes e dilacerações; e 10% têm amputação dos membros superiores, bem como lesões de córnea (até com cegueira) e lesões nos ouvidos (às vezes com perda de audição).
Em todos os casos é preciso deixar de lado as “receitas caseiras” como passar pomadas, manteiga, pó de café ou creme dental, pois esses produtos só aumentam as chances de infecção no local afetado.
Em casos de queimaduras, os cuidados imediatos são:
• Proceder a limpeza e resfriamento da queimadura imediatamente após o acidente, com água corrente entre 8° e 15°c por pelo menos 20 minutos, interrompendo o processo da queimadura. Não se deve colocar gelo em contato direto com a pele queimada.
• Cobrir as lesões com tecido limpo e procurar um especialista para evitar complicações da ferida.
• Nos casos de lesões mais graves, que apresentem bolhas, inchaço, secreção ou lesões causadas por explosão próxima ao rosto ou que tenham provocado lacerações na mão, a orientação é procurar socorro médico o mais rápido possível.
• Nos casos de amputações, condicione adequadamente a parte do membro amputado, proteja o local com pano limpo e dirija-se com urgência a um pronto atendimento.
As sequelas estéticas e funcionais principalmente nas mãos costumam ser graves e até mutilantes. Além do mais, não se pode deixar de lado as pessoas portadoras de hipersensibilidade e os animais domésticos que padecem com reações comportamentais de ansiedade e estresse em decorrência da alta sensibilidade ao barulho.
Dispomos atualmente de tecnologias que proporcionam maravilhosos efeitos visuais. É fundamental que haja uma campanha de conscientização para incentivar a população a optar por formas de celebração mais sustentáveis e menos lesivas, como o uso de drones, luzes e projeções a fim de reduzir o uso de fogos de artifício e, consequentemente, os seus danos lesivos.
(*) Dr. MAURÍCIO ALLET é médico ortopedista, Cirurgião de Mão, Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela Unifesp - EPM e membro titular da SBOT e SBCM