Cuiabá, 30 de Março de 2025

INTERNACIONAL Quarta-feira, 26 de Março de 2025, 14:38 - A | A

Quarta-feira, 26 de Março de 2025, 14h:38 - A | A

Informações ultrassecretas

Assessor de Trump postou em chat detalhes de plano militar secreto

'The Atlantic', cujo editor-chefe foi incluído sem querer em grupo de alto escalão dos EUA no Signal, divulgou toda a conversa do grupo

G1

A revista "The Atlantic", cujo editor-chefe foi incluído sem querer em um grupo do alto escalão dos Estados Unidos no aplicativo de mensagens Signal, divulgou nesta quarta-feira (26) novos trechos da conversa travada no grupo que mostram que houve divulgação de informações confidenciais, o que Trump negava existir.

Os novos trechos mostram que o secretário nacional de Defesa avisou aos outros membros do chat — entre eles, o próprio jornalista — que os Estados Unidos atacariam o Iêmen cerca de duas horas antes da ofensiva ocorrer de fato. Hegseth informou inclusive detalhes de horários e aviões e drones que seriam utilizados na ofensiva e também falou sobre a localização de terroristas.

O aviso prévio e os detalhes configuram informações de teor confidencial e sigilo absoluto na Casa Branca, o que o governo de Donald Trump havia negado existir no grupo. Em um dos novos trechos divulgados pela revista nesta quarta, o secretário nacional de Defesa, Pete Hegseth, diz:

"O clima está FAVORÁVEL. ACABEI DE CONFIRMAR com o CENTCOM (Comando Militar Central dos EUA) que estamos prontos para o lançamento da missão (no Iemen)".

A mensagem, afirmou a revista, foi publicada duas horas antes de os EUA atacarem alvos dos Houthis no Iêmen (leia mais abaixo)— o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou os ataques após eles começarem.

O próprio Trump, sua porta-voz e outros membros do alto escalão em Washington repetiram que não havia qualquer informação secreta nas mensagens do Signal — canal de comunicação considerado não oficial na Casa Branca. O Ato de Espionagem da Constituição dos EUA determina que é crime compatilhar informações confidenciais e ultrassecretas fora de seu "local de custódia adequado".

Diante das declarações, a revista The Atlantic disse ter tomado a decisão de divulgar o conteúdo total da conversa.

Em outro trecho, Hegseth fala da posição e dos aviões usados no primeiro lançamento de bombardeios e até da localização do terrorista alvo do ataque:

“12:15: LANÇAMENTO de (caças) F-18s”, escreveu o secretário. “13h45: Inicia-se a janela de 1º ataque do F-18 ‘baseada em gatilho’ (o terrorista alvo está em sua localização conhecida, então DEVE CHEGAR NA HORA – também, lançamento de drones de ataque (MQ-9s)”.

Após a nova leva de mensagens divulgadas pela The Atlantic, o conselheiro nacional de Segurança de Trump, Mike Waltz, negou novamente que tenha havido compartilhamento de "planos de guerra". Em publicação nas redes sociais, no entanto, ele não se pronunciou sobre as informações confidenciais.

"Sem localização. Sem fontes e métodos. Sem planos de guerra", disse. "Os parceiros estrangeiros já haviam sido notificados que os ataques eram iminentes".

Inclusão acidental em grupo

O editor-chefe da revista americana foi incluído sem querer em um grupo de conversas do governo Trump que compartilhou mensagens ultrassecretas, que anteciparam planos de guerra contra os rebeldes Houthis no Iêmen.

Jeffrey Goldberg foi incluído em um grupo no aplicativo Signal que incluía o vice-presidente, JD Vance, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, e o secretário de Estado, Marco Rubio. "Eu tinha várias dúvidas sobre se esse grupo era real", afirmou, em reportagem publicada na segunda-feira (24).

Ele só acreditou na veracidade das mensagens com o início dos ataques lançados de porta-aviões americanos sobre alvos houthis. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, vinculado à Casa Branca, confirmou que "parece ser uma troca de mensagens verdadeira" e que está revisando seus protocolos para saber como o jornalista foi adicionado ao grupo.

O jornal "The New York Times" classificou o episódio como "uma falha extraordinária" de segurança.

O aplicativo Signal não é um canal autorizado pelo governo americano para o compartilhamento de informações sigilosas. Existem sistemas do próprio Executivo exclusivos para esse propósito.

O relato de Goldberg mostra momentos em que Vance e Hegseth criticam diretamente as potências europeias aliadas dos EUA. Ao discutir ataques aos Houthis, que têm bloqueado algumas rotas marítimas no Oriente Médio, o vice-presidente lembra que apenas "3% do comércio americano passa pelo Canal de Suez", enquanto "40% do comércio europeu passa por lá".

"Eu apenas odeio salvar a Europa de novo", critica Vance, ao deixar implícito que uma operação dos EUA contra os Houthis supostamente ajudaria mais os europeus do que os americanos.

"Eu compartilho totalmente do seu desprezo pelos aproveitadores europeus. É PATÉTICO", concorda Hegseth, em resposta (veja o diálogo acima). "Mas o Mike está correto, nós somos os únicos do planeta (do nosso lado do muro) que podem fazer isso", completa o secretário de Defesa. Não está claro, pela reportagem, quem é o Mike ao qual ele se refere.

Em outro momento, Hegseth discute com Vance um possível adiamento da operação militar no Iêmen. Em uma das mensagens, ele discute o impacto que a campanha militar vai causar na opinião pública.

"Acho que a mensagem vai ser difícil de qualquer maneira – ninguém sabe quem são os Houthis – e é por isso que precisamos nos concentrar em: 1) Biden falhou e 2) o Irã financiou", argumenta o secretário.

A reportagem da "Atlantic" aponta que, logo após os ataques aos Houthis, o assessor de Trump Michael Waltz deu entrevistas contrapondo as ações no Iêmen de seu governo às da gestão Biden, que ele classificou de "alfinetadas" pouco efetivas.

Ataque dos EUA ao Iêmen
Na primeira ofensiva militar desde que tomou posse, o governo de Donald Trump atacou o Iêmen no início do mês. Trump disse que os ataques foram direcionados a integrantes dos Houthis, grupo extremista iemenita financiado pelo Irã.

Os Houthis, que atualmente lutam em uma guerra civil contra o governo do Iêmen e controlam regiões do país, também vêm lançando mísseis contra Israel em apoio ao Hamas e fazendo ataques a navios comerciais do Ocidente.

Esses ataques acontecem em trechos do Mar Vermelho, que é uma das principais rotas comerciais de navios do mundo. A ofensiva, que ocorre desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, desestabilizaram o transporte marítimo de mercadorias entre o Ocidente e o Oriente.

Na semana passada, após a ofensiva de Trump, os Houthis afirmaram estar em guerra contra os EUA e atacaram um bombardeiro da Marinha norte-americana.

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