Ela é a "amiga de longa data" de Donald Trump. Nas fotos das sessões de oração que a presidência norte-americana sabe exatamente como exibir, ela é a mulher de 50 e poucos anos, de cabelo loiro e roupas chamativas, cuja mão frequentemente repousa sobre o ombro do presidente.
Também foi ela quem, na véspera da eleição presidencial de 2020, orou pela vitória do candidato republicano, em um sermão inflamado com toques de hip-hop, que rapidamente se tornou um meme na internet, e prometeu o inferno para aqueles que não votassem nele.
Paula White-Cain, de 58 anos, é uma das televangelistas mais influentes dos Estados Unidos. Depois de 20 anos à frente de sua "megaigreja" na Flórida, seguindo a mais pura tradição carismática, ela conta hoje com cerca de cinco milhões de seguidores nas redes sociais e uma fortuna que provavelmente acompanha esse número.
Ela também é uma das mais polêmicas. Seus críticos a acusam, entre outras coisas, de práticas religiosas consideradas heréticas ou até mesmo de charlatanismo.
Isso porque Paula White-Cain defende o "Evangelho da Prosperidade", uma ideia que afirma que a riqueza é uma dádiva divina, alcançada através das doações feitas ao ministério pastoral.
'Sete bênçãos sobrenaturais'
"Enquanto os cristãos tradicionais costumam doar dinheiro para ajudar os desfavorecidos e manter suas igrejas, aqueles que seguem o Evangelho da Prosperidade doam para a casa do pastor e, em casos extremos, para seu jato particular", escreveu o colunista do The New York Times, David French.
Sua última oferta gerou controvérsias. Em um vídeo divulgado próximo à Páscoa, ela ofereceu "sete bênçãos sobrenaturais" e uma cruz de cristal de Waterford, em troca de uma contribuição de US$ 1.000 ou mais.
A pastora é, sobretudo, a personificação da ala mais radical da direita cristã, determinada a exercer seu controle sobre toda a sociedade, da política à cultura, passando pelos negócios e pela educação.
"Aqueles que se opõem a essa visão são vistos como influenciados por forças demoníacas, o que os transforma não apenas em adversários políticos, mas também em inimigos de Deus", observa André Gagné, professor da Universidade Concordia de Montreal e especialista em movimentos carismáticos nos Estados Unidos.
"É o caso do movimento Black Lives Matter, que Paula White-Cain classifica como "anticristo."
Uma longa relação
Donald Trump teria descoberto Paula em 2001, ao assistir a um de seus programas de TV. Na atração, ela pratica exorcismos e até o "moonwalk" (passo de dança do "break" que Michael Jackson imortalizou). Na época, o magnata imobiliário não era exatamente um praticante religioso.
Embora tenha sido batizado e confirmado na Igreja Presbiteriana do seu bairro no Queens, a prática religiosa de Trump não ia muito além disso. O fato é que os dois nunca mais se separaram. Quinze anos após o encontro, ele a nomeou sua conselheira espiritual assim que chegou ao cargo de presidente.
Ele lhe devia isso. Os evangélicos brancos haviam votado em peso nele, com mais de 80% dos votos. Um apoio que não diminuiu desde então.
"Paula White foi a porta de entrada de Donald Trump para os evangélicos, numa época em que ele não era de forma alguma considerado o candidato natural deles", observa Marie Gayte-Lebrun, professora de civilização norte-americana na Universidade de Toulon.
"Foi isso que também lhe deu acesso a eleitores negros e latinos, que ajudaram a garantir sua vitória em novembro passado."
Entre essas duas vitórias, o republicano se transformou. Mais ideológico, ele parece ter adotado como próprio o discurso messiânico dos pastores evangélicos ao seu redor, o de um presidente escolhido por Deus para salvar a América.
Uma convicção reforçada pela tentativa de assassinato de que escapou em julho passado. "Deus me salvou para que eu devolvesse a grandeza à América", repetiu em seu discurso de posse.
O 'Projeto 2025' como guia
O plano de batalha da "cruzada" contra "ateus, globalistas e marxistas", proclamado em junho de 2023, já estava traçado há meses: o "Projeto 2025" da Fundação Heritage.
Os "generais" foram nomeados: os "supercatólicos" J.D. Vance e Sean Duffy, respectivamente para a vice-presidência e para os Transportes, e o evangélico Pete Hegseth para a Defesa… Só faltava um porta-voz, que seria sua própria conselheira espiritual. Assim, Paula White-Cain foi colocada à frente do "gabinete da fé" da Casa Branca, cargo que já havia ocupado no primeiro governo Trump.
O programa, então chamado "Fé e Oportunidade", visava facilitar o acesso das instituições religiosas aos recursos federais. Agora, sua missão é outra: "ajudar as organizações religiosas em seus esforços para fortalecer as famílias norte-americanas, promover o emprego e a autonomia, e proteger a liberdade religiosa".
E como se isso não fosse o suficiente, o presidente republicano a associou a um grupo de trabalho, cuja função será combater os "preconceitos anticristãos".
Sob a liderança da ministra da Justiça, Pam Bondi, essa "força-tarefa" deverá "acabar com todas as formas de discriminação contra os cristãos dentro da administração federal", "processar atos de violência e vandalismo anticristãos, e defender os direitos dos cristãos e dos crentes".
Para certos membros do grupo de Trump, nenhuma outra comunidade religiosa nos Estados Unidos estaria sendo tão perseguida quanto os cristãos, que são, na verdade, amplamente majoritários.
"O que Donald Trump chama de perseguições são, por exemplo, pessoas condenadas por protestar diante de clínicas antiaborto, ou médicos supostamente forçados por uma administração democrata a praticar abortos ou cirurgias de mudança de gênero", explica Marie Gayte-Lebrun.
"Ao colocar esse grupo de trabalho sob a autoridade do Ministério da Justiça, Trump quer mostrar que ele não será mais o braço armado das perseguições anticristãs, mas, ao contrário, o defensor delas."
Nos Estados Unidos, a separação entre Igreja e Estado é garantida pela primeira emenda da Constituição. Essa separação foi reforçada por uma carta de Thomas Jefferson em 1802, que falava de um "muro de separação" entre as duas entidades. Assim, qualquer intervenção governamental em assuntos religiosos e qualquer influência religiosa nas instituições públicas foram proibidas.
A nomeação de juízes conservadores por Donald Trump na Suprema Corte já havia enfraquecido o "muro" de Jefferson, e os ataques da nova administração ameaçam agora derrubá-lo completamente.