A Suíça pretende atualizar sua rede de abrigos nucleares envelhecidos, que vêm sendo cada vez mais vistos como um recurso valioso em tempos de maior incerteza global, especialmente desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022.
Graças a uma lei de 1963, a Suíça já está à frente de vizinhos como a Alemanha. Cada um de seus 9 milhões de habitantes, incluindo estrangeiros e refugiados, tem garantido um espaço em um bunker para proteção contra bombas e radiação nuclear.
"Nos próximos anos, a Confederação [Suíça] quer eliminar algumas exceções às regras atuais e atualizar alguns dos abrigos mais antigos", disse Louis-Henri Delarageaz, comandante de proteção civil do cantão de Vaud, à Reuters.
O governo iniciou consultas em outubro para garantir a "resiliência suíça em caso de conflito armado" e planeja investir 220 milhões de francos suíços (cerca de R$1,48 bilhões) na modernização das estruturas antigas.
"Isso não significa que estamos nos preparando para um conflito – essa não é a mensagem – mas temos uma rede de abrigos e precisamos mantê-los e garantir que sejam funcionais", afirmou Delarageaz.
Na vila de Bercher, no cantão de Vaud, oficiais de proteção civil, vestidos com macacões laranja, inspecionaram um bunker sob um prédio de apartamentos como parte de uma vistoria obrigatória realizada a cada 10 anos.
Um deles tentou fechar a porta do bunker para vedá-lo, mas ela não se moveu. Uma ventilação de ar, colocada entre vasos de plantas e um ornamento de pedra, foi considerada funcional, mas um túnel de escape cheio de teias de aranha levava a um poço profundo sem escada.
"Este abrigo não é utilizável em seu estado atual", concluiu o chefe da equipe, Gregory Fuhrer. O proprietário terá um ano para corrigir as falhas ou deverá pagar 800 francos (900 dólares) por cada vaga dos moradores em um abrigo público, acrescentou.
A Suíça mantém-se fora de guerras estrangeiras desde que adotou a neutralidade em 1815. Foi ocupada pela França no século XVIII e sofreu alguns bombardeios aéreos durante a Segunda Guerra Mundial.
Delarageaz disse que seu escritório recebeu um aumento repentino de chamadas de moradores preocupados com abrigos após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
"De repente... fomos extremamente procurados por pessoas querendo saber: onde estão os abrigos, onde está minha vaga, meu abrigo está pronto?", disse ele, acrescentando que pedidos de vagas por cidadãos franceses precisaram ser recusados.
Embora a maioria dos suíços tenha abrigos privados, alguns dependem de bunkers comunitários. Próximo ao seu escritório, há um dos 350 abrigos comunitários do cantão, bem conservado, com beliches e banheiros.
Nas proximidades, há um centro de comando subterrâneo, um hospital subterrâneo com sala de operação e chuveiros de descontaminação, e um bunker para proteger obras de arte.
"Na Suíça, temos visão de longo prazo", disse Delarageaz. "Há um adágio latino que diz: 'Se queres a paz, prepara-te para a guerra'."