Agências de segurança da Coreia do Norte estão usando o aplicativo de mensagens chinês WeChat como ferramenta de repressão a norte-coreanos que utilizam celulares contrabandeados da China. A tática, segundo moradores, tem gerado crescente descontentamento entre a população.
Fontes ouvidas pelo site Daily NK relataram que autoridades na província de Ryanggang têm confiscado celulares durante operações de fiscalização e acessado as contas de WeChat dos proprietários.
A partir daí, os agentes enviam mensagens aos contatos armazenados no aplicativo, simulando conversas sobre entregas ou pagamentos anteriores. Se houver resposta, os destinatários são interrogados para confirmar possíveis envolvimentos com contrabando ou envio de dinheiro.
Além de repressiva, a prática também estaria sendo usada como meio de extorsão. De acordo com os relatos, os agentes da ditadura de Kim Jong-un se aproveitam das respostas obtidas para exigir subornos em troca da não aplicação de punições mais severas.
“Eles usam o histórico de mensagens para tentar provar atividades ilegais e, depois, pressionam a pessoa a pagar ou colaborar em novas investigações”, disse uma fonte local.
“Em muitos casos, o objetivo não é aplicar a lei, mas gerar lucro pessoal”, acrescentou o morador.
Uma tática comum é prometer redução de penas caso o colaborador envie mensagens do WeChat para seus contatos, induzindo-os a responder e, assim, gerar novas prisões. Um morador da cidade de Hyesan, por exemplo, foi forçado a participar da armadilha. Quando o destinatário não respondeu, o homem acabou condenado a três meses de trabalhos forçados. Revoltado, ele denunciou o agente ao comitê provincial do Partido dos Trabalhadores.
A insatisfação com os abusos é crescente na Coreia do Norte, segundo o site, especialmente entre aqueles que recebem punições mais leves e não são enviados a campos de reeducação, onde denúncias são mais arriscadas. “As pessoas sabem que ter um celular chinês é ilegal, mas estão cada vez mais dispostas a denunciar os excessos dos agentes de segurança”, relatou a fonte.
Moradores afirmam que as penalidades aplicadas variam conforme o agente envolvido. “Alguns dizem abertamente que o valor a pagar depende de quem te pegou”, acrescentou a mesma fonte. “Eles estão se aproveitando da repressão para encher os próprios bolsos.”